O desenvolvimento deste estudo pormenorizado tem vindo a ser estruturado e esquematizado — ao longo de mais de trinta anos de intensa investigação — como um método de ensino de técnica de dança contemporânea, com base na imprescindível necessidade de alcançar uma melhor compreensão das múltiplas capacidades de movimento de um indivíduo.
Como artista, sempre tive inúmeras inquietações e curiosidades, como a necessidade de compreender melhor o espaço que me rodeia, o que me desafiava a desenvolver as minhas habilidades artísticas, permitindo-me interpretar em qualquer lugar ou cena. Assim, com a acumulação das experiências educativas e profissionais enquanto bailarino — que começaram aos meus 14 anos de idade, em paralelo com a minha formação em teatro e teatro físico — surge, mais tarde, através duma pedagogia personalizada, o desejo de cultivar um ensino de excelência, de formação profissional e acessível a todos, estabelecendo-se este como um dos meus objetivos principais em prol da dança, enquanto profissional e especialista.
No entanto, devido à minha singular personalidade, nunca senti a necessidade de imitar nenhum dos meus mestres, procurando sempre personalizar tudo o que aprendia, em função do meu próprio corpo e da minha forma de pensar. Foi assim que, com o passar do tempo, as minhas investigações se foram estruturando no desenvolvimento do meu próprio método pedagógico — o Método Seller — baseado no estudo de diversas técnicas, como: técnicas de dança moderna (Graham, Cunningham, Limón, Horton), Fly-Low, danças Kathakali, Contact-Improvisation, Técnica Alexander, Flamenco, Release, Técnica de Dança Jazz, Expressão Corporal e Artes Marciais.
De modo que, refletindo, pela sua vez, sobre a expressão composta 'dança contemporânea', assumindo-se sempre que esta se constrói com base numa técnica de dança devidamente evoluída e, por consequência, inovadora e em constante transformação. Considerando que se trata, igualmente, de uma arte interpretativa, é importante sublinhar que a mesma se apoia numa formação técnica sólida e exigente, enraizada nos princípios da dança moderna. Para tal, é imprescindível compreender o percurso da própria dança moderna, a qual, a certa altura, se transforma numa nova técnica de dança, onde foram desenvolvidos diversos estilos pedagógicos, numa procura contínua por princípios que sustentem o estudo do movimento. Assim como acontece com a técnica de dança clássica — que está sujeita a regras específicas — também aqui se estabelecem regras, embora estas surjam da motivação interna do próprio movimento, contribuindo para a criação de uma nova técnica, com estrutura e objetivos próprios.
Desta forma, a dança contemporânea surge, portanto, da necessidade de nos expressarmos de maneira mais atual, mantendo-nos sempre em constante evolução e transformação, tal como o próprio ser humano e tudo o que o rodeia. Prosseguindo a continuidade dos princípios modernistas, procura-se fundir corpo, mente e espírito (consciência). A essência da dança contemporânea não reside num 'estilo de movimento' onde tudo é válido, como uma mistura de ballet, acrobacia, jazz, ginástica, improvisação, etc. Pelo contrário, possui uma definição própria e uma identidade suficientemente forte para ser reconhecida como uma técnica artística altamente qualificada, focada no estudo do corpo, nas suas possibilidades, no seu desenvolvimento, na sua evolução e no seu aperfeiçoamento.
Assim, através desta técnica, afastamo-nos do virtuosismo evidente e privilegiamos a naturalidade do movimento, permitindo que o próprio espectador deixe de se concentrar apenas na execução técnica e se possa emocionar, sentindo uma realidade partilhada e tornando-se parte integrante do que está a ser apresentado.
A técnica é uma ferramenta, uma forma de compreender — é o legado dos nossos antepassados, mestres, coreógrafos e bailarinos, que acabam por fazer parte de nós, oferecendo-nos uma base sólida para continuar a investigar, enriquecer-nos e tornarmo-nos bailarinos mais versáteis e credíveis. Portanto, todas as técnicas e estilos de dança, tudo aquilo que contribui para o nosso crescimento, é benéfico. Estes podem — e devem — ser complementares, de forma a evitar que fiquemos formatados por esta ou aquela técnica ou estilo, permitindo-nos ser verdadeiros bailarinos contemporâneos: em constante estado evolutivo.